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Trash Comics: Ravage 2099

02 fev

Para quem não sabe, mas lá muito antigamente quem publicava os quadrinhos da Marvel e DC no Brasil era a editora Abril. E uma das coisas que ela adorava fazer era cortar páginas e edições inteiras – sem dar justificação alguma. Inúmeros personagens tiveram até mesmo longas sequências de histórias saltadas.

Eu vim a adquirir algumas dessas histórias, comprando as edições originais. Admito agora que alguns saltos não foram tão absurdos assim, pois economizaram nosso tempo e dinheiro – eram histórias para lá de ruins.

O caso que mostrarei hoje é um tanto difícil de julgar, pois o personagem já era mequetrefe e ferraram ele de jeito: RAVAGE 2099 – que teve apenas sua primeira história publicada no Brasil, e depois somente lá no volume 12 ou até mais, talvez nem isso.

Criado pela lenda Stan Lee e pelo excelente artista Paul Ryan, Ravage 2099 era assim:

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Um herói para os tempos modernos.

Antes de mais nada, uma breve introdução ao universo 2099. Lembram que dias atrás comentei que muitos heróis novos são apenas variações de heróis já existentes? Então.

Homem-Aranha 2099… Justiceiro 2099… Motoqueiro Fantasma 2099… Hulk 2099… Dr. Destino 2099…

A ideia é assim: pegue um cara com um nome e uma personalidade diferente dos heróis originais (mas não muito diferente), e coloque no mundo cyberpunk de 2099. Fechou.

Certo, o Homem-Aranha 2099 tinha histórias fabulosas, mérito do grande Peter David. E os X-men 2099 era meio que zoado demais. Mas no fundo, apenas UM herói deste mundo era original: Ravage 2099, o homem, o mito.

Quer dizer… um tanto original. A ideia: executivo descobre que sua empresa polui a natureza. Ele se revolta. Vai até o lixão e pega calotas e engrenagens como armas somado com umas armas de fogo. Em suma, total Trash Comics.

A edição no Brasil parou aí. Podem imaginar como fiquei bravo pela ed. Abril… não apenas era a única coisa semi-original do universo 2099, como era desenhado pelo incrível Paul Ryan e escrito pelo Stan Lee. Não me importa que a história é ruim, é o Stan Lee! É o cara que criou um monte de heróis e vilões que adoramos. Nem vou começar a dar nomes aos bois, pois senão vou ficar o dia inteiro escrevendo.

De qualquer maneira… uma coisa curiosa sobre o Ravage é que a origem dele não é a do volume 1 – ela expande várias edições. Logo no volume 2 ele começa a mudar e mudar e a origem meio que termina no volume 8. Meio que… e já vão saber porquê.

O Ravage, então, armado de lixo, vai resgatar sua namorada numa ilha radioativa. De repente ele começa a falar com gíria e sotaque, mesmo antes sendo um executivo com um vocabulário exemplar. Na ilha ele fica cego de um olho e começa a usar um visor com certas funções, e ganha o poder de soltar raios pelas mãos. O primeiro arco se fecha no volume 8. Não é uma obra-prima, mas dá pro gasto.

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Essa mecha branca no cabelo ia e vinha, e ocasionalmente se esqueciam de fazer.

Qual eram os planos para depois? Só Deus sabe. Pois, com as vendas ruins, tiraram o Stan Lee da jogada e deram o título para Pat Mills escrever (e colocaram desenhistas bem fracos no lugar), que na época fazia o Justiceiro 2099.

Quem é Pat Mills? O cara é famoso no Reino Unido, tendo escrito muitos personagens para a 2000 A.D., entre eles o Slaine e o Defoe, que são até bem bons. Nos EUA escreveu o Marshall Law. Tem méritos, mas nunca conseguiu sair muito daquele mundo de histórias semanais da 2000 AD. Uma característica marcante dele é ser muito violento e irônico, e ele se segurou escrevendo para a Marvel.

De qualquer forma, o que ele fez com o Ravage no volume 9? E do nada, pois a história 9 nem encaixa adequadamente com o fim da 8, não tem continuidade. Sabem a lista lá em cima de heróis 2099? Não acham que faltou alguns? Capitão América… Homem de Ferro… Wolverine…

Sim, ele tornou o Ravage uma espécie de Wolverine 2099. Vamos ver que poderes o Ravage 2099 versão Mills possuía?

Força, velocidade, durabilidade, estamina, agilidade e sentidos como os de um animal.

Garras.

Fator de cura.

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Se não vende, basta fazer o personagem ser mais violento.

As histórias, a partir de então, se tornaram ilegíveis. Eu tinha alguns volumes que acho que usei pra segurar um vazamento aqui em casa. E os desenhos… credo. O Ravage 2099 de Lee/Ryan era um personagem inesquecível e fundamental? Óbvio que não – era fraco, embora bizarro, e sem dúvida possuia certa originalidade. Mas sabe como diz o ditado – se não tem ninguém por perto para melhorar, chame alguém para piorar.

De qualquer forma: tome isso, Ravage 2099, em qualquer uma das versões:

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No próximo post, falaremos de racismo nos quadrinhos – um caso específico.

 

 

 

 
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Publicado por em 02/02/2016 em Geral, Quadrinhos

 

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